Rocha Pita




Nasceu Sebastião da Rocha Pita na cidade da Baía, em 3 de Maio de 1660, sendo seus pais João Velho Gondim e D. Brites da Rocha Pita.
Fez os seus primeiros estudos no Colegio dos Jesuitas na Baía, onde se graduou em artes, bacharelando-se depois em canones, na Universidade de Coimbra. Regressando ao Brasil, fi­xou-se em seu engenho á margem do Paraguassú, proximo á vila de Cacheira, onde se dedicou ao cultivo da cana de açúcar.

Foi coronel do regimento de ordenanças, fidalgo da Casa Real, cavaleiro de Cristo, membro da Academia Real da Historia Portuguêsa e da Academia dos Esquecidos. Cultivou a poesia ao gosto da época. Tambem escreveu um romance em língua castelhana.

Já avançado na vida, resolveu escrever a sua historia do Brasil, entregando-se, para isso, a um arduo trabalho de pesquisa nos arquivos, livrarias dos conventos e cartorios da Baía, São Vicente, Rio de Janeiro e Lisboa, e ao estudo de preciosos documentos ineditos, guardados na Torre do Tombo.

Cabe a Rocha Pita a primazia na publicação de uma histo­ria do Brasil, mais ou menos sistematica, pois, a que escrevera Frei Vicente do Salvador, só seria conhecida em 1889. O traba­lho do escritor baíano é de grande merito literario e marca a transição da poesia para a prosa, nesta fase da literatura co­lonial.

Em 1730 publicou Rocha Pita, em Lisboa a sua Historia da America Portuguesa, desde o ano de 1500 de seu descobrimento até o de 1724.

Desta obra há uma segunda edição de 1878, impressa na Baía e publicada pelo Barão Homem de Melo ; uma 3ª de 1880, revista e anotada por J. C. Góis, impressa em Lisbôa, Com de­signação de 2ª edição; e , finalmente, a 4ª de 1910, publicada no Rio ele Janeiro, pela livraria H. Garnier.

O livro de Rocha Pita, calcado nos moldes dos historiado­res gregos e romanos, e feito segundo os preceitos dos cronistas portuguêses do seculo XVII, não tem merecimento algum como fonte de informação historica. A obra é falha, confusa, não ana­lisa; não critica, e muitas vezes falseia e exagera a verdade. Frei Gaspar declara “que se não fiem no autor da Americe Portu­guesa, o qual muitas vezes claudica, em saindo fóra de sua pa­tria”; e é com profunda indignação, que Pedro Taques se re­fere ás inverdades historicas de Rocha Pita: – “este autor tem tantas faltas no corpo de sua história, que passam a ser erros indesculpaveis ; porque as materias de que trata, constando a verdade delas e a sua época e a cronologia dos documentos que existem nos registros dos livros da secretaria do governo geral, provedoria mór e camara da Baía, não devia escrever os sucessos pertencentes á mesma historia sem a lição destes cartorios; e por esta falta escreveu mais por vaidade que por zelo; e em muitas materias só o fez por informação dos apaixonados; e por isso caíu em faltas que temos mostrado em alguns titulas genea­logicos que temos escrito”.

A preocupação em produzir efeito, que transparece de todas as paginas da Americo Poriuquêsa, ostentava-se em Rocha Pita, ao lado de uma outra, não menos ingenua : – a sua bôa fé em aceitar milagres e factos sobrenaturais como explicação de certas lendas indígenas e tradições populares. Muitas vezes os arroubos de linguagem gongórica, levaram-no a falsear a verdade, e então, arrastado pela pompa de um estilo empolado, entrava, sem o presentir, pelo dominio da fantasia.

Não obstante todos estes defeitos, a obra de Rocha Pita é cheia de sincero entusiasmo pelas causas de sua terra, para cujas belezas só tem palavras de louvor e cantos de exaltada admi­ração. Estes hinos de amor patriotico, salvaram-lhe o livro; a poso teridade consagrou-o antes pelo exagero das descrições, que pela verdade da narrativa historica. Por isso, o seu livro foi a fonte de inspiração de muitos dos nossos romanticos, e Santa Rita Durão vasou O seu Coramur, nas paginas da História da America Portuguêsa.

“Em falta do espirito crítico, que em comum com os seus contemporâneos, Pita não possuia, – escreve Capistrano de Abreu, – ele trouxe para sua história as inspirações de um forte patriotismo”. Ao influxo deste sentimento, cedera o historiador baiano, com o mesmo ingenuo entusiasmo, que antes possuira a Bento Teixeira Pinto, a Botelho de Oliveira, “‘a Frei Itaparica e, sobretudo, ao autor dos Dialagas das grandezas da Brasil.

Todavia, esse amor patriotico de Rocha Pita, amor que lhe inspiraria as mais belas paginas da Historia da Americe Partuguêsa não nos revela qualquer sintoma separatista. Não se en­quadra no espirito de lusismo que predominou na colonia até os meiados do seculo XVIII, qualquer sentimento de independeu­cia politica ou literaria. O nativismo, manifestado pelos nossos primeiros poetas e prosadores, era todo exterior. Não possuía- mos ainda heróis e tradições que justificassem um amor menos objectívo á patria.

O Brasil começava a saír da barbaria ; a epopeia das ban­deiras era um facto da vespera, e, a luta com os holandêses em Pernambuco e Baía, as expulsões dos francêses e espanhóis no sul, e a guerra dos Palmares, eram sucessos ainda recentes. A todos estes grandes acontecimentos de nossa histeria, faltava um factor primordial, que permitisse julga-los imparcialmente: – a distancia no tempo e no espaço.

Rocha Pita, escrevendo a sua historia antes de 1724, Iôra contemporâneo dos maiores sucessos que descreve, e por isso, 50 tem palavras de louvor para os que neles tomaram parte, e que o fizeram, antes de tudo, levados pela sua fé catolica e pelo seu amor ao Rei de Portugal.

Não condenemos, assim, a obra do velho fazendeiro de Pa­raguassú: devemo-la antes admirar pela forma que enaltece a patria e lhe canta as grandezas e a opulencia maravilhosa. Me­lhor não o fariam, muito depois, os arcades mineiros.

Após a publicação da Historia da America Portuquêsa, re­cebida em Portugal com os mais encomiásticos elogios regressou Rocha Pita para a Baía. Trazia com a comenda da ordem de Cristo, o seu diploma de membro supra-numerario da Academia Real da Historia Portuguêsa.

Recolhendo-se novamente ao seu engenho de Paraguassú, ali faleceu o historiador baiano, á 2 de Novembro ele 1738.



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